quinta-feira, março 30, 2006

Alguns dias "before"

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para a devida apreciação da prepotência

a questão da culpa ou inocência dos algozes

"the day after"

quarta-feira, março 29, 2006

visivelmente abatidas

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e depois era ver a rapaziada a levar uns tonquinhos para as lareiras...

o abate a frio

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Estas eram as árvores que periodicamente frequentavam este blog. Davam sombra, traziam o canto de alguns pássaros urbanos, serviam de poleiro para certos melros. Observava-as regularmente, fotografava-as, via como mudavam, via nelas a minha própria mudança.

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Observá-las diariamente era uma coisa boa, como me chegou a dizer a Sara. Nestes bancos, à sombra, se trocaram muitas palavras e afectos. Era uma nesga de verde num limite da cidade, onde qualquer Cesário, verde, deixava vir acima a não-cidade que lhe ia por dentro.

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Hoje abateram-nas.
Porquê, porquê?
Razões de segurança, devido às raízes que levantavam a calçada calcária, penetração insurrecta dos choupos nas profundezas das casas.
E eu que me lixe.
O que me impressionou, também, foi a frieza do encarregado do abate. Que sim senhor, era a Câmara a mandar, plantavam-se outras, era só esperar mais trinta anos, o choupo não prestava para aqui.
E eu a fazer contas, a ver se ainda ia viver mais trinta anos.
Ou a contar os dias com árvores, ainda.

funcionamento de uma torradeira



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Acho que não quero mesmo dizer nada sobre o funcionamento de uma torradeira, enquanto metáfora de certas coisas da vida, incluindo o calor da literatura ou da política.
É que torradeira dispara e atira com o pão pelo ar, quando o calor, numa zona fulcral, ultrapassa os limites de dilatação permitida.

terça-feira, março 28, 2006

blog revisited

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«voltamos de novo, com quantas pernas temos, para ver se continua tudo a funcionar nos conformes aí, no funcionamento»

segunda-feira, março 27, 2006

crise de falta de assunto de um escritor de romances policiais com capas apelativas





















quem quiser ler ou ver melhor a capa, terá de clicar
com aquela mãozinha branca que amplia as imagens

quarta-feira, março 22, 2006

mimos e bisontes

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http://images.google.com/images?q=marcel+marceau&hl=en&btnG=Search+Images


O artista é um mimo. Refaz no seu gesto, que pode ser corporal, oral, escrito, por imagem interposta, etc., os movimentos com que gosta de identificar-se. Através dele, as coisas, o universo inteiro, fazem-se humanos e comunicáveis, não indirectamente, por intermédio de símblos e conceitros da ciência, mas directamente, pela sensibilidade.
O acto da mimagem exprime a consciência da identificação com a coisa mimada e faz participar nessa identificação aqueles que são sensibilizados por esse acto.Os homens da pré-história mimavam os animais nas máscaras, nas danças rituais, nos gritos e nas pinturas e desenhos que nos ficaram na rocha das cavernas e que reproduzem de forma impressionante o que há de essencial no animal reproduzido. Por outro lado, eles caçavam os mesmos animais que eternizavam através da mimagem. Devemos supor que a caça e a mimagem exprimem duas atitudes opostas. Na mimagem o animal é o sujeito com que o artista-mimo se identifica; na caça é o objecto perseguido e finalmente aniquilado. Por efeito da mimagem o bisonte permanece na memária, que é a rocha pintada, desenhada ou esculpida das cavernas. Por efeito da caça (convergindo com outros factores não humanos) o mesmo bisonte desapreceu da fauna terrreste.

António José Saraiva, Ser ou não ser arte - estudos e ensaios de metaliteratura


Uma vez vi um espectáculo de Marcel Marceau no S.Luís, nos anos oitenta, creio. Previlégio meu, era exactamente o que há muito esperava: vê-lo a pairar, a voar com as aves, a ser coisas, pessoas ou animais, com variadas emoções estampadas no corpo e na cara, que funcionava como máscara da persona, um ecrã que ele criava e oferecia, enquanto pessoa, actor e mito.
Ao mimar incorporava o objecto mimado, tansportava a máscara versátil onde cabiam a alegria, o espanto, a tristeza...
Podia largar a máscara quando quisesse, tavez só a largasse em casa ou na rua, não sei.

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A.Ferra, bisontes, 2005

domingo, março 19, 2006

espelho mágico





Vi, na última sexta-feira, o filme “Espelho Mágico”, de Manoel de Oliveira. O velho realizador conta uma história no seu melhor estilo, com quadros teatrais onde se dizem os textos de Agustina Bessa Luís. No fim, fiquei sentado a ler a ficha técnica e reparei no elenco. Fazem parte de um grupo de amigos, que têm trabalhado em muitos filmes juntos (Leonor Silveira, Ricardo Trepa - neto do realizador -, Bénard da Costa, Luís Miguel Cintra, Diogo Dória, Leonor Baldaque, Michel Piccoli, Lima Duarte e tantos outros). Talvez aquela amizade e cumplicidade ajudem a prolongar a vida de Oliveira, mergulhado num trabalho gratificante, sempre com um amanhã. Sem amigos e família as pessoas morrem mais cedo, não se prolongam na mesma água que as embala.
O filme, baseado nos escritos de Agustina, está cheio de aforismos. Um dos últimos é dito por Luís Miguel Cintra, o “Falsário”: que, segundo psiquiatras, o nascimento é mais violento do que a morte. Esta fala vem numa sequência em que é mencionada uma luz ao fundo do túnel, na morte, que pode ser a luz ao fundo do túnel quando se sai do útero materno. Este encontro do nascimento com a morte lembrou-me o “2001, Odisseia no Espaço” em que o fim se encontra com um princípio.

PS – Além de mim estavam na sala mais cinco espectadores. É um privilégio de carolas.

quinta-feira, março 16, 2006

tatuagem de alecrim

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foto AF, 2005

Eram verdes os cães, perseguidores inalteráveis, ladravam e saltavam no espaço, fugindo. Ela contornou o peito de tiras negras de veludo, numa prisão perpetuada sobre a água e o sol abriu uma fenda, desvendou-lhe os braços tatuados de alecrim. E o vento a envolvia e reduzia, neste súbito encontro, na água do rio, lá em baixo, ao longe.

sábado, março 11, 2006

memória de uma embaixada


A embaixada, confiada a Tristão da Cunha, partiu de Lisboa em Janeiro (1514), e foi recebida em Roma em Março. Era uma procissão magnífica, e o fausto espectaculoso do rei português conseguiu deslumbrar essa corte de Leão X onde se reuniamos os primores da civilização da Europa.
Partiram, primeiro da porta del Populo, trezentos cavalos guiados à rédea por outros tanto azeméis, vestidos de seda, e os cavalos cobertos por mantos de brocado com franjas de ouro. Seguia logo a turba da criadagem, e após ela, os portugueses de Roma, seculares e eclesiásticos. Depois iam os parentes dos embaixadores, ostentando o luxo desvairado desses tempos: chapéus de plumas bordados de pérolas de aljôfar, grossos colares e cadeias de ouro cravejadas de pedras preciosas, armas tauxiadas com embutidos e lavores, sedas veludos, rendas, anéis; montando cavalos de raça, ornados de fitas e jaezes de preço. Eram mais de cinquenta os fidalgos; e atrás do brilhante esquadrão via-se, primeiro, uma companhia de besteiros de cavalo, depois os oficiais da casa do Papa, com a sua guarda de honra de archeiros suiços e lanceiros gregos a pé
(...)
Estes animais, dois leopardos em carros , encerrados em gaiolas, e o pontifical magnífico eram as páreas que, dos seus domínios orientais, o rei enviava ao Papa. Morreu noutra viagem o rinoceronte destinado a representar a África, mas depois foi empalhado para Roma.
(...)

Oliveira Martins, História de Portugal

Parece que memória desta embaixada ficou entranhada no país, perdendo-se no inconsciente colectivo que, de onde a onde dá sinais de si: gasta-se aquilo que se tem enquanto dura, gasta-se mesmo quando não se tem, no fausto e pompa de cada circunstância que dá ao pobre a efémrea sensação de rico. Funciona como um carnaval latente.

E tudo por causa da embaixada, e de uma corte corrupta e perdulária, de há quinhentos anos? Não se poderá desviar o curso do fatalismo histórico em nome dos limites?

separador

segunda-feira, março 06, 2006

articulações

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Ninguém sabe que um sujeito chamado Whitcom Judson, que eu não conheço de lado nenhum, inventou um mecanismo para substituir botões e cordões. Parece que no início foi um fiasco, era comum saias e calças abrirem-se inadvertidamente.
O fecho é constituído por umas pequeninas linguetas metálicas ou de plástico que, ao serem puxadas, engatam umas nas outras como os elos de uma lagartinha. Para funcionar eficazmente tem de fechar “bem”. Em certas partes do corpo requer destreza no manuseamento, caso contrário pode prender-se à respectiva parte do corpo e causar embaraços e dor.
O que nos espanta é a facilidade e precisão de um bom fecho éclair. Quando as linguetas não se articulam bem, não encaixam umas nas outras, não é eficaz.
Como na vida e nas relaçãoes pessoais, convém que a articulação seja a melhor possível. No fecho, que é um aparelho, a articulação tem de ser perfeita; nas relações, o mais ou menos bem já pode ser razoavelmente bom.

quarta-feira, março 01, 2006

Tendências

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place your nose within brackets and inhale deeply
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smell poem - josé Luis Luna (adaptado)
in Antologia de Poesia Concreta, Assírio & Alvim, Lisboa, 1973



Abro aqui um parêntesis para registar que, de acordo com as minhas recentes passeatas por uma pequena esfera da blogosfera, verifico que há um interesse crescente pela postagem de audio e vídeo. Há também uma procura pela maior facilidade de colocação destes elementos que são menos fáceis de trabalhar do que a imagem simples. Sendo o mundo dos blogs riquíssimo em iconografia, o seu tratamento tem-se imposto como uma tendência cada vez mais apurada na qualidade de formas e expressões mais interactivas e expressivas. A escolha da música, por exemplo, revela a tentativa de partilhar gostos e até pontos de vista. São conteúdos metafóricos, que passam de modo indirecto.
Dou conta de alguns blogs onde apreciei a mensagem sonora, ou como pano de fundo: Vida de papel, com água a correr, de resto - ou Bomba inteligente, e tantos outros que mostram excertos enquanto registo e opção, como o Chora que logo bebes, que nos leva ainda numa interessante visita guiada.