segunda-feira, agosto 08, 2011

poetas: o seu a seu dono














A salvação da rima


pior guardar os livros que os ler
melhor abrir as alas que as ter
e só alar as cabras ao nascer

comem jornal, película de filme,
entrelaçam histórias de roer
cabras satíricas fartas de foder

as palavras, sempre as mesmas
organizadas de maneira diferente
nos livros abertos de repente

e todavia as páginas, os versos
corridos por não serem guarnecidos
por peles que os cornos e o cu tecem

acentos e verbos que aborrecem
quem se fartou de ler títulos soltos
nas metáforas jogadas a granel

na noite silenciosa sem chover,
ruídos a roçar versos na pele
com sílabas amarradas ao poder

de rimar por distracção ou desfastio,
fazendo de conta que são leis
prolongando fim sonoro nos papéis

no jogo do encontrão a tapar página
tapas de melão a cobrir vinho
e garrafas vazias no caminho

mas o que salva tudo é uma lágrima
nos ataques de solidão servida fria
com a televisão acesa todo o dia



Jogar é preciso


Sem grandes inquietações
nos livros que nunca lê,
sem angústias pr’a jantar
mija sem saber porquê


regista o totoloto
para ganhar a esperança
de pagar contas de gás,
e lê no tarot a vitória
de um gajo que é incapaz
de adivinhar o futuro
numa data de cerveja

numa conversa de chacha
de pasmaceira ao relento
não diz coisa que se veja

Sem grandes inquietações
na noite desconsolada
sem angústias pr’a jantar
mija sem ser por nada





Estes meus poemas aparecem publicados na Revista "Foro das Letras" (da Associação Portuguesa de Escritores-Juristas) atribuídos a Fernando Guimarães, poeta e crítico que admiro. Ele não deve ter ficado muito satisfeito com este lapso na organização da antologia. Nem eu. O seu a seu dono. Como se não bastasse, em outro lapso da mesma revista, aparece a minha biografia atribuída a outro poeta.


Resumindo: limparam-me o nome, atribuíram os meus poemas a outro, e ainda a outro deram-lhe a minha nota biográfica.