sexta-feira, fevereiro 24, 2006

o "Carnaval" já funciona




vídeo AF, 2006. sonorização: Sarlatti, Sonata in D minor L 366

Depois de várias tentativas, lá consegui pôr este boneco a funcionar. Mas já não sei bem os passos que dei, nem sei se voltarei a colocar outro videoclip, à semelhança do que a conteceu com o o “clip cor de rosa”. Agora vou tentar aprender a colocar música (sem imagem) no blog, mas ainda não encontrei nehum site para hospedar a sonorização que pretendo. Que, de resto, também faz falta para o "luz de presença", que também é feito cá em casa. Se algum visitante souber de hospedagem, agradeço a informação.
Este boneco, a que chamei “Carnaval”, representa todo o esforço que se pode fazer para pôr uma coisa a funcionar, partindo de elementos já existentes.
A criação é uma sucessão de criações.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

o clip velho


Este clip está desengonçado, enferrujado, gasto.

Já não é eficaz, como em tempos foi.

Encontrei-o na rua, abandonado, junto ao passeio,

com ar de sem-abrigo.


Também já não tem nada a prender.

domingo, fevereiro 19, 2006












Estes clips estão envolvidos num aceso debate sobre
as coisas que (pre)dominam (n)os papéis que prendem,
nomeadamente a colecção Berardo,
a cor das opas dos padres,
Hitchcock e os pássaros,
o modo de falar dos livros sobre livros,
os casos de sequestro,
a justiça de Salomão em “car tunes”.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

o clip negro


Imagem estática, austera, sem som.

É o clip negrus erectus. Tudo a preto e branco,

num desafio à mobilidade e insinuação de

certos clips cor de rosa.

Este é um clip determinado, disposto a prender.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

o clip cor de rosa


vídeo AF, 2005

utopia?

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"books on the window", foto AF, 2005

Seria interessante que antes de cada publicação - ou antes, de cada feitura de um livro – se juntassem numa reunião os vários intervenientes e que cada um explicasse aos outros a sua participação com o seu trabalho nesse mesmo livro, incluindo o escritor e o encadernador. As máquinas seriam (re)pensadas e um deus ex-machina faria notar a todos que o todo funcionava como a soma das partes. Interdependentes.
Uma máquina infernal, invisível, tudo tem feito para reduzir a quantidade dos intervenientes. Tem conseguido alguma coisa em favor dos custos de produção, da quantidade e da velocidade.

Um dia vou aprender como se fazem os livros.
Escrever é apenas uma parte.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

portas fechadas

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Fotografia de AF, 2004

Ouvem-se gemidos à porta de templos dispersos, o ruído das dívidas de sangue perante o silêncio da fome. Estendem-se pela noite as breves refeições, feitas agora de laços e memórias - insónias à espera da reconversão das mãos para as máquinas do tempo incerto. E nenhum álcool vale à química dos astros, às esculturas de vidro, aos tecidos estampados nas faces sem futuro. Quebrou-se o círculo de néon, restam as almas esbatidas nas soluções de recurso, muros improvisados, pedras soltas que se espalham no dia seguinte a qualquer porta fechada.
de O desemprego dos dias, 2005






quarta-feira, fevereiro 08, 2006

ciclo das sombras















tinta da china, A. Ferra, 2006

1.
Por esta rua se desce até ao rio. De um lado e do outro as lojas onde se compram laranjas importadas e detergente para as almas manchadas de alcatrão. O dono do quiosque diz que já vendeu todos os jornais. Nada de novo, agora, no fim do ciclo das sombras.

2.
Um automóvel amarelo acende as luzes que marcam o percurso das idéias. As imagens da fantasia ficam mais próximas dos prazos, no encontro seco com a realidade, nas horas irregulares do tempo preenchido pelo vento dos desertos do sul.

3.
Nem mais uma árvore traçada além das linhas sustenta o rosto preso a um relógio de sol. Nem as garras de certos mamíferos deixam marcas sobre a terra húmida de tantas lágrimas de heróis feitos de nada.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

sobre a importância das limas



















Uma lima é constituída por uma barra metálica (de aço...) onde se inscrevem sucessivos sulcos a uma distância mínima. Serve para desgastar, “comer” ou alisar certas superfícies de outros materiais, principalmente madeira e ferro. O desgaste provocado pela lima na superfície a tratar é feito por sucessivos cortes minúsculos, motivados pelo movimento da mão pressionando a lima. O fundamental para que este desgaste se verifique, através do atrito, é a existência de uma superfície rugosa (da lima) em fricção com uma superfície (mais) lisa. A qualidade da lima varia com uma boa relação forma função - o design -, com qualidade do aço e com o modo como os cortes são traçados. Terão de ser sempre oblíquos para vencer a resistência e facilitar o movimento manual. Há, no entanto, limas com espigões, mais próprias para madeira. São as grosas. Geralmente pretende-se, com a limagem, alijar matéria inútil da parte limada, que se transforma em serradura, no caso da madeira, ou em limalha, no caso do ferro. Desperdícios.

Também se podem limar palavras e textos escritos, para obter maior precisão e ajustamento da forma à sua função linguística. É um trabalho paciente, de alta precisão, feito por várias tentativas.

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instalações desactivadas da fábrica de Limas Fèteira, em Vieira de Leiria

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

a intenção dos astros














Uma voz fala da transformação das bocas inseridas nos rostos semanais. Fala da escuridão dos mitos, da ilusão das metáforas, do teatro de fantoches presos por fios de silêncio. Fala dos insectos expulsos dos parques aos domingos, que logo pousaram num grande edifício em reparação, depois que os instantes do cio se perderam nos lagos de improviso onde se imobilizaram as rãs, olhando o infinito.
Onde se pára toda esta máquina, qual o botão que a muda de sentido num eterno movimento sem retorno? Como fazer a crítica dos astros para iluminar os risos?

Na continuidade dos olhares culpados de tanta existência, além da convenção dos signos tão exactos na guarida das manhãs, apenas fica o cheiro a café fresco a sugerir o princípio dos dias, a toldar a visão sobre a cidade, uma ânsia de encontrar um absoluto que se veja da janela, numa rua da cidade onde tudo envelheceu, até o céu, com medo da demolição dos sonhos.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

ver o gesto das palavras




















poema visual, António Ferra, 2002