espelho mágico
Vi, na última sexta-feira, o filme “Espelho Mágico”, de Manoel de Oliveira. O velho realizador conta uma história no seu melhor estilo, com quadros teatrais onde se dizem os textos de Agustina Bessa Luís. No fim, fiquei sentado a ler a ficha técnica e reparei no elenco. Fazem parte de um grupo de amigos, que têm trabalhado em muitos filmes juntos (Leonor Silveira, Ricardo Trepa - neto do realizador -, Bénard da Costa, Luís Miguel Cintra, Diogo Dória, Leonor Baldaque, Michel Piccoli, Lima Duarte e tantos outros). Talvez aquela amizade e cumplicidade ajudem a prolongar a vida de Oliveira, mergulhado num trabalho gratificante, sempre com um amanhã. Sem amigos e família as pessoas morrem mais cedo, não se prolongam na mesma água que as embala.
O filme, baseado nos escritos de Agustina, está cheio de aforismos. Um dos últimos é dito por Luís Miguel Cintra, o “Falsário”: que, segundo psiquiatras, o nascimento é mais violento do que a morte. Esta fala vem numa sequência em que é mencionada uma luz ao fundo do túnel, na morte, que pode ser a luz ao fundo do túnel quando se sai do útero materno. Este encontro do nascimento com a morte lembrou-me o “2001, Odisseia no Espaço” em que o fim se encontra com um princípio.
PS – Além de mim estavam na sala mais cinco espectadores. É um privilégio de carolas.
3 Comentários:
Ainda não vi este filme, mas em breve pensarei num post sobre o grande Manoel de Oliveira.
É certo que o cinema de Oliveira não é feito para o grande público mas é confrangedora a situação referida pelo António: cinco espectadores.
Sempre me impressionou a ligeireza
(portuguesa concerteza) com que o cineasta é referido em certos meios. Tal ligeireza, jocosa, na maior parte dos casos feita de graçolas desprimorosas, não passa de ignorância armada em "eu também sei disso", ou em preconceito americanizado de que o cinema tem que ser indústria ou não pode existir. Como se a arte tivesse que pagar os mesmos impostos que pagam coisas úteis e outros consumíveis como sabões e sabonetes, ou telenovelas de morangos com açúcar.
Creio que a nossa ultraperiférica cultura não se deve à ausência de inteligência e talento, mas à mesquinhez do meio e às elitezinhas que deste se alimentam.
Oxalá Oliveira continue a fazer sombra durante muitos anos. Ou melhor: oxalà as sombras em torno de Oliveira se dissipem rápidamente para que o cineasta ainda possa ver na sua própria terra um reconhecimento semelhante áquele que obteve internacionalmente.
Saudações cinéfilas.
é desses privilégios de carolas que mais gosto...
não tenho o som das pipocas a bloquear -me o som.
mas só 5! nunca me aconteceu!
:)
é por isso que eu gosto de ir ao cinema sozinha. em horarios inusitados. ver filmes ainda mais.
boa dica.
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