sexta-feira, abril 28, 2006

postal de mulher bordada

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É um postal escrito de Madrid, em 1966. Não digitalizo o verso para não devassar privacidades, porque todos os postais de amor são ridículos, senão não seriam postais de amor.
Talvez aquele que enviou o postal tivesse querido mostrar a paciência necessária para fazer um bordado. O que inverte a situação histórica-cortês da mulher que fazia trabalhos pacientes, bordados incluídos, enquanto esperava o regresso do amante de qualquer guerra, verdadeira ou não.

domingo, abril 23, 2006

Anti Grafitti System

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Hoje encontrei na minha rua a Anti Graffiti System. A empresa parece subsistir, com estrutura montada, utilizando uma carrinha com o letreiro pintado, Anti Graffiti System, na frente, sobre o pára-brisas, ou na parte lateral, em português, Manutenção Anti-graffit (transcrevo o que leio). É uma brigada que limpa paredes para que os prédios recuperem a pureza original, em vez exibirem a marca transgressora dos que espalham sonhos e pequenas ou grandes revoltas nas paredes,


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com cores e traços mais ou menos canónicos, na inversão de lettering de ângulos e curvas criativas.


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E eles, os da AGS, subsistem na limpeza a jacto, vivendo à custa de grafiteiros que lhes pintam o salário pela cidade.


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É inevitável não pensar no garoto de Charlot, que partia vidros para que, em seguida, o Charlot vidraceiro os colocasse de novo.


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quinta-feira, abril 20, 2006

o autoclismo de Doncaster






















igreja de Saint Lawrence


É meu hábito ver os “referrals” no "sitemeter". A vantagem é que se encontram referências interessantes. Neste caso, e porque me interessa o funcionamneto de certas coisas, encontrei uma referência a um suposto inventor do autoclismo, um mecanismo simples que tem merecido a minha atenção e, provavelmete, estará na origem do nome deste blog.
Desta vez fui levado até Doncaster, pequena cidade que nunca visitei durante as minhas permanências em Shefield, que fica a poucos quilómetros, lá para o norte de Inglaterra.
A notícia é muto atrasada, mas vale a pena dar uma olhada à referida igreja, numa partilha de interesses autoclísmicos.


Autoclismo na igreja 2000-11-01

A pequena igreja de Saint Lawrence, nas proximidades de Doncaster, no Norte de Inglaterra, resolveu prestar homenagem a um dos filhos da terra, Thomas Crapper, que, no século XIX, inventou o autoclismo. Vai daí, decidiu encomendar um novo vitral, onde aparece uma sombra da célebre invenção de Crapper, que nasceu em 1836, na vizinha aldeia de Thorne, e emigrou para Londres, onde acabou por conhecer a glória. Segundo um dos criadores do vitral, a ideia de incluir uma sanita no desenho veio de um paroquiano.
Fonte JN

quarta-feira, abril 19, 2006

a energia da "Família Feliz"



Video de A. Ferra

Chamei a este conjunto de bonecos acrobáticos “Família Feliz”, nome baseado num prato chinês, não sei qual o número, com esta designação no menu. Realmente estes parecem constituir uma família feliz - o pai, a mãe e o miúdo, ali às voltas, sem se cansarem.
É um aparelho cujo funcionamento se deve à energia eléctrica que vem de duas pilhas de volt e meio colocadas no seu interior. Quer dizer, uma pessoa dá lanço com a mão e depois, não sei como, os manequinzinhos desatam a andar e nunca mais param.
Eu gostava é que isto fosse o verdadeiro motu continuo, isto é, que nele se gerasse um movimento perpétuo, um movimento que pudesse ser multiplicado infinitamente e resolvesse o problema da energia no planeta, através desta fonte única, a “Família Feliz”. Mas já sei que o resultado é apenas aparecerem pessoas a procurar no “google” informação sobre energia eléctrica e motu continuo, sem que fiquem a saber grande coisa, tal como aconteceu com o autoclismo, com a máquina de escrever, com o corta-unhas, com a captação de água, com a criação poética...

Nota: o entusiasmo e a velocidade atingida pelos excitadíssimos bonecos é tal, que a câmara tem dificuldade em registar o movimento com clareza, e fica assim um rodopiar desfocado.

terça-feira, abril 18, 2006

eléctricos

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Bem gostava de saber como funciona um eléctrico, quero dizer um carro eléctrico, como aqueles que o blog A Cidade Surpreendente nos mostra, num belíssimo post. Mas ainda não sei, por isso aqui fica o link para uma memória da minha infância.
É o que fazemos quando damos com certos objectos.

sábado, abril 15, 2006

significado de certas coisas










(imagem: Greg Hicks website)

Oráculo

Quem sabe a causa primeira
da mão que o sangue
encarnou?

A tua mãe, Orestes, tingiu-as
naquele que te gerou.

O sangue se muda em sangue,
mancha original, olhar da insolência (1)
sobre Atreu.

De ferida em ferida marcou
a descendência
que o sofreu.

O poema, sendo oráculo,
desvenda o sangue
dos Atridas,

mas nunca o fim da morte
deixada por herança
aos homicidas.

AFerra, inédito, 2003

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imagem de cena de "Acto da Primavera"

As culturas e civilizações criam os seus próprios rituais.
O Auto da Paixão de Cristo ainda hoje se pratica (?) em certas zonas rurais. Fazia parte da vida da aldeia. Agora quase não, por causa das televisões que servem as paixões enlatadas. Ainda bem que Manoel de Oliveira deixa bem registado em filme um “Acto da Primavera” enquadrado num tempo, de guerras, como também este nosso.
Tal e qual como a tragédia grega, que fazia parte da manifestação ritualizada, religiosa da pólis. A chamada (1) insolência era a violação das leis estabelecidas e das regras da cultura e da civilização.

De um modo cínico, diz o Poder (uma personagem) a Prometeu, agrilhoado a um rochedo - como se fosse uma cruz - depois de ter roubado o fogo aos deuses:

- Agora, aqui neste lugar, sê insolente e, depois de roubares* o privilégio dos deuses, faz presente dele aos efêmeros**. Que alívio os mortais serão capazes de trazer aos teus sofrimentos? Com um falso nome os deuses te chamam Prometeu – o Previdente - ; deves, pois, de maneira previdente, libertar-te das cadeias forjadas pela arte deste.


* roubou o fogo aos deuses para o dar aos humanos
** os que duram pouco, os humanos, portanto


A história não se repete. Mas parece que se repetem coisas na história que funcionam de maneira semelhante.

terça-feira, abril 11, 2006

mas uma caixa de música deve ter música




e com ela se constrói outra realidade

segunda-feira, abril 10, 2006

Funcionamento de uma caixa de música





Propositadamente este vídeo não é sonorizado, porque não consigo o som de uma caixa de música. O ideal era ligar um cabo USB directamente à caixa de madeira, mas não dá. Colocar outra música era tirar-lhe a intimidade.
O mecanismo em si é tão simples como o de um autoclismo, o que é preciso é que funcione: um pequeno tambor movido a corda, com picos metálicos por onde passam umas pequenas linguetas de metal flexível (talvez latão?) que vibram, pois são pequeninos diapasões de frequências diferentes.
Mas aquilo que verdadeiramente vibra é o encanto das caixinhas de música

sábado, abril 08, 2006

Abel Salazar: aviso daquilo que não acontece















Não é que ontem fui ao Centro Cultural de Belém para ver os duzentos e cinquenta desenhos de Abel Salazar e a exposição tinha sido adiada!? E eu, que recebo a programação do CCB, não dei pelo adiamento. Resultado: deslocação, procura de estacionamento, perda de tempo...
Não se faz, podiam ter dito alguma coisa. O meu e-mail não devia servir apenas para o CCB me avisar daquilo que vai acontecer. Devia também servir também para ser avisado daquilo que não vai acontecer.

E se as nossas caixas do correio estivessem cheias de avisos daquilo que não vai acontecer?


PS – No CCB, deixei uma reclamação, porque quando me lamentava à funcionária, na minha desilusão, ela automaticamente me colocou um livrinho para reclamar. Com a institucionalização do uso daquele livrinho para descarga de raivas, as reclamações banalizaram-se, até porque a respostas são quase sempre para dar razão ao reclamante, com promessas de que, no futuro, haverá mais cuidado.
Os programas de Março tinham uma fotocópia agrafada com a respectiva alteração, havia um cartaz da exposição com datas novas num expositor acrílico muito danificado, enquanto ali ao lado ficava uma vitrina vazia. Se Abel Salazar fosse mais mediático, teria outra atenção. Quem não aprece nos écrans...

terça-feira, abril 04, 2006

Onde nos pode levar um postal comprado numa feira, ao domingo à tarde













Este postal foi impresso em Hamburgo e levou-me a pesquisar, no google, Accra, no Uganda.
Fiquei a saber que é um grande centro de arte africana, onde por vezes se faz uma feira. Depois fui parar a um blog inactivo http://www.delila.ws/marco/ghana/ghana.htm.
Vale a pena dar uma volta por aqui. É interessante imaginar a vida que parece fazer aquela gente fotografada. Aquele café na esplanada é qualquer coisa. Fizeram o blog para comunicarem com a família, no Brasil. A esta hora já não devem estar lá, daí o fim do blog.


Nota - No postal pode ler-se: Main street, Accra, West Africa

segunda-feira, abril 03, 2006

semear e colher as tardes de domingo













Este postal foi comprado numa feira, num domingo, ao fim da tarde. Foi escolhido entre vários, pensando sempre que não os podia comprar todos, para ter o gosto de dizer "para a próxima compro outros". Custou dois euros. A luz do fim da tarde ligava-se com a luz da colheita que aparece na imagem - pessoas envolvidas num trabalho pessoal, interagindo numa época em que o principal instrumento era o braço, tecnologia da sobrevivência, do pão e dos afectos.
Assim parece, assim podemos imaginar que é.

requiem




Para que o requiem permaneça e possa ser ouvido noutros lugares

que vão nascer.

Para que outras árvores cresçam.

Mas que não vá o lamento muito além do funeral.

Aqui ainda surpreende o funcionamento de certas coisas.