sexta-feira, junho 30, 2006

os desenhos de Abel Salazar

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Abriu a esperada exposição no Centro Cultural de Belém. Em cima do artista médico e médico artista, outra exposição, a de Jorge Martins, que nos deixou esmagados antes que, com uma hora de atraso, abrisse a exposição deste "desenhador compulsivo. Mas o protocolo assim obrigou (obrigaria?)

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Queria feliciatar a Casa Museu Abel Salazar, queria saber mais sobre esta exposição, saber daquelas coisas humanas e informais que não vêm nos catálogos, mas não foi possível, porque as funcionárias do Centro não me souberam localizar ninguém da "Casa Museu".

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Além do tributo prestado à obra, a exposição é uma homenagem ao Homem, ao investigador perseguido pelo regime, a quem tanto foi negado, sem saberem se castravam o médico ou a ciência.
Talvez isto justifique a profusão de desenhos que noutro tipo de abordagem não seriam incluídos.

domingo, junho 25, 2006

Vick ou Vicks?

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Vicks VapoRub

Cintilava nos olhos uma ardência
e a obscuridade percorria-lhe o corpo afagado no calor
pesado e húmido,

este sonho abraçava-lhe a alma
uma lembrança tornava ainda mais vivos os dias
presos a uma cama amolecida
pela infância primeira e primitiva.

Não era a transparência que desejava,
como daquela vez em que mergulhou no rio,
água até quase à cintura, talvez,
não se sabia exactamente,
ali descia uma cascata de espuma pela tarde,
um afago na garganta quase a tocar-lhe a boca,

mas no sonho ele adivinha a serenidade
«Como vais aparecer ao fim da sede, nesta hora
ressequida pela febre?»

Não era aquela febre intensa,
apenas uma temperatura mais alta que o normal
feita de pequeninos traços sobre um fio de mercúrio,
quase trinta e sete e quatro, ou e cinco, tanto vale.

Assim permanecia naquela alucinação da gripe,
«foi um resfriado que apanhaste,
corrente de ar que te atravessou o peito, as costas...»
e as suas mãos eram ásperas,
encolhia-se na cama como se estivesse a nascer
«um chá de limão bem quente, gostas?»

Quem lhe moldava o peito em Vicks VapoRub
esse creme intenso, amaciando infâncias
constipadas de xaropes?

«Foi mas é das correrias, do suor
que lhe ficou no corpo irreverente»,
é o tio a falar, em visita casual.

«Mais uns dias de cama? Talvez seja melhor...»,
é a prima a falar, ajeitando o lençol.
E ele, cansado, avesso mesmo ao leite quente.

«Não te chegues para ele, olha que se pega»
é a mãe que se aproxima, num falar macio
como o mel que lhe traz, de rosmaninho.

Acordo eu também a tempo de contágio,
vendo o meu irmão dormindo, agarrado ao corpo mole,
de agri-doce suportado na tontura
do Vicks VapoRub,
ainda quente e frio, a intensidade verde engole
sem sentir a traqueia, a faringite, um arrepio,
a boca sabe-lhe a calor de mãe e a mentol.


E a ardência que vai da testa aos olhos,
nesta eternidade que arde e cura?
Vem logo a seguir, na lembrança do sol,
do banho na água fria encoberta por amoras,
e por um ramo de salgueiro, que descia...
Só no cheiro a Vicks esse tempo ainda perdura.

AFerra, inédito, 2004

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Nota; existem as duas versões: Vicks e Vick








segunda-feira, junho 19, 2006

coincidência da matraca

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Descobri que o blogue "Poesia distribuída na rua" também publicou este texto de Machado de Assis, em Julho de 2005, e de modo mais completo. A questão da matraca também chamou a atenção do autor do blog. Não é caso para menos. O apelo para uma notícia ou para um produto é feito através da várias formas de matraca. Às vezes, para que uma coisa seja vista, ouvida e notada é necessário matraquear muito a cabeça dos outros.
Mas quem quiser pode sempre resistir à matraca.

domingo, junho 18, 2006

da necessidade da matraca na informação















(...)
Naquele tempo, Itaguaí, que como as demais vilas, arraiais e povoações da colônia, não dispunha de imprensa, tinha dois modos de divulgar uma notícia: ou por meio de cartazes manuscritos e pregados na porta da Câmara e da matriz; - ou por meio de matraca.
Eis em que consistia este segundo uso. Contratava-se um homem, por um ou mais dias, para andar as ruas do povoado, com uma matraca na mão. De quando em quando tocava a matraca, reunia­-se gente, e ele anunciava o que lhe incumbiam - remédio para sezões, umas terras lavradias, um soneto, um donativo eclesiástico, a melhor tesoura da vila, o mais belo discurso do ano, etc. O sistema tinha inconvenientes para a paz pública; mas era conservado pela grande energia de divulgação que possuía.

Machado de Assis (1839-1908), O Alienista
(sublinhados meus)


Funcionamento da matraca

A matraca é constituída, basicamente, por um eixo à volta do qual gira, perpendicularmente, um elemento alongado que contem uma roda dentada. A energia para o seu funcionamento é dada pelo movimento circular da mão, segurando o eixo, acompanhado de inércia. Produz-se uma sucessão de percussões na passagem de cada dente por uma patilha. Mais ou menos intensidade e rapidez do movimento proporciona maior ou menor continuidade do som, subdividido em pequenas batidas.
O material utilizado pode ser metal (raramente), madeira ou plástico.

Se disser que o som é um ruído irritante, estou a fazer uma observação subjectiva, que não interessa à objetividade descritiva do seu funcionamento. Mas, por isso mesmo, é que existem expressões como “matraqueou-me a cabeça com aquele discurso sobre a mesma coisa”, etc.

Nota: Rela é outro nome para matraca (palavra que vem do árabe) onde se pode verificar uma certa onomatopéia, tal como no termo árabe. Rela é também o nome de um batráquio com um coaxar estridente. A rela artesanal utiliza-se também para afugentar os pássaros das searas.



quarta-feira, junho 14, 2006

comércios do Porto em tarde de chuva miúda

Talvez tudo passe ou se trespasse.

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Porto, rua 31 de Janeiro

Mas, por enquanto, ainda se encontram ali, nos Clérigos, aquelas coisas que apenas na sua presença real acreditamos serem absolutamente necessárias:

passamanaria,
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adornos de penas,
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colares falsos (ou talvez bem autênticos, porque não querem enganar ninguém.)
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e jogam-se os botões, numa conversa impossível de manter, tal o ruído.

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sábado, junho 10, 2006

um ano de funcionamento













O funcionamento faz hoje um ano. Nasceu às apalpadelas, procurando ver como funcionava a blogosfera. Depois lá foi observando o funcionamento de certas coisas, desde a máquina de escrever, à criação artística, ou ao autoclismo, que estudou particularmente. Ainda hoje é muito visitado por isso mesmo. Neste momento anda um bocado cansado e desiludido com o funcionamento de certas coisas.
A partir daqui serão reduzidas as postagens, a não ser que haja algum mecanismo que atraia a atenção imediata. Para já fica um trevo de quatro folhas para dar sorte a todas as visitas, principalmente às supersticiosas. E também àqueles e aquelas que o têm estimulado com o seu comentário amigo. Não faço lista de links para não excluir ninguém. Eles e elas sabem quem são.
Aqui fica o abraço do
António

quinta-feira, junho 01, 2006

o pão e os jornais




















Perguntei ao Augusto do quiosque como estava a venda dos jornais, neste tempo de crise, se tinha baixado ou não. Ele pensou uns segundos e disse:
- Está na mesma. Isto dos jornais é como o pão em nossa casa, às vezes sobra, outras vezes falta.
E disse-me ainda que não era só no movimento de venda que os jornais eram como o pão:
- De manhã, quentinhos, é quando saem melhor, as pessoas sentem-nos frescos , sentem-lhes o cheiro, e assim é que sabem bem.
Os jornais e o pão.






o novo estatuto da carreira docente em movimento

Há pedras que não encaixam umas nas outras


Apesar do movimento estar presente no funcionamento, esta é uma postagem de intervenção. A flutuação constante da imagem provoca um certo enjoo, que advem da instabilidade das reformas, da instabilidade do quotidiano e da instabilidade - e imprevisibilidade -da legislação arbitrária. Unidireccional.
(vamos registando outras reflexões...)