sábado, dezembro 31, 2005

funcionamento de um pequeno mundo bloguístico

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Quase balanço
Nestes seis meses de blogosfera, dei comigo a encontrar informação sem a pedir. Foi gratificante. Confrontei-me com posições bem diferentes da minha, com culturas bem diferentes da minha. Foi gratificante este confronto. Vivi a dificuldade de manter este blog pouco interactivo, pois optei por uma linha em que não comento o imediato, experimentando, por isso, situações de certa contenção. Um blog que não é polémico limita as interacções pela sua evidência. As imagens suportam tudo isso. Sinto, no entanto, um significativo companheirismo com os blogs que mais visito, encontrando-se alguns aqui ao lado, nos links. Cada um deles saberá da cumplicidade desta comunicação.
Abraços para vós e um Bom Ano de 2006

quinta-feira, dezembro 29, 2005

quase fim de qualquer tempo

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Agora deixamos tudo para trás, como uma praça quase vazia, ao fim da tarde, onde as cadeiras presas ao chão descansam os dias e uma figura branca atravessa o cimento.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

medo do desconhecido

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Às vezes fico inquieto, inseguro, numa cidade que não conheço. Desconfio do outro, aquele que está ao meu lado. Quem será ele, quais serão as suas intenções? Valerá a pena cruzar os braços e continuar nesta inquietação, enfrentando a incerteza, na falsa segurança da minha roupa comprada numa grande superfície?

só os anjos não têm costas

sexta-feira, dezembro 23, 2005

o manequim de "Broken Flowers"











Quem viu o filme reparou que este rapaz é um manequim para Don, no sentido que tenho vindo a dar a este tamaho natural.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

dentro do contexto

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fora do contexto










o verdadeiro carrinho de corda

quarta-feira, dezembro 21, 2005

tamanho natural

1.
Há anos vi um filme com o Michel Piccoli, chamado «Tamanho Natural». Ele fazia o papel de um dentista que tinha mandado vir do Japão uma boneca de poliéster, creio, em tamanho natural. Já pouco me recordo do filme, mas uma coisa é certa, ele atribuía particularidades humanas à boneca. Vestia-a, embelezava-a, e até lhe comprou lingerie erótica. Era casado e acabou por se divorciar. A boneca serviu para o autor do filme falar das relações homem-mulher, das relações humanas. Lembro-me de que, uma vez, a boneca foi roubada e levada por uns homens para sítios escusos onde foi violada e atirada pelos ares. Quando o dentista a encontrou ralhou com ela e houve uma cena “conjugal” melodramática. Não me lembro de mais nada.
2.
A propósito de «O funcionamento de certas coisas», tenho vindo a falar nos mecanismos de projecção, isto é um manequim não serve apenas para trazer a roupa que lhe colocamos sobre o corpo, serve também para nele projectarmos os sentimentos, geralmente de modo inconsciente. O mesmo se passa com outras imagens. Tenho pretendido reflectir, dentro da blogosfera, como funcionam as imagens, a duas ou a três dimensões.
A capacidade que uma obra de arte tem de evocar a singularidade das projecções vai enriquecer essa mesma obra de arte. É a conotçaão e a plurisignificação onde se aloja a liberdade da fantasia. Quem não fantasia pode morrer por falta de sonho.

3.
Por muito belos que sejam os manequins eles não estão aqui apenas por razões estéticas. Intrometeram-se no blog e têm querido permanecer e exibir-se. E eu permito-lhes a intromissão, porque sei que é por uma boa causa: o funcionamento destas coisas.

terça-feira, dezembro 20, 2005

anjo azul II

anjo azul I

legendas para o anjo azul

segunda-feira, dezembro 19, 2005

autoritário!

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os manequins também pensam?

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talvez pensem por nós, tal como o Photobucket nos guarda imagens...

este que veladamente nos espreita

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terça-feira, dezembro 13, 2005

a poesia é





















tentativas para explicá-la no seu funcionamento

(o nome assinado é José Gomes Ferreira)


domingo, dezembro 11, 2005

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Este postal não tem nada escrito por trás, comprei-o assim. Encontrei vários que estabelecem um relação de subserviência entre «a criada e a patroa».
Neste, espanta-me a serenidade com que a observada enfrenta a poderosa observadora.
Esta imagem devia ser para codificar o costume.

o sábio e o tolo

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O sábio apontava para a lua e o tolo só lhe via o dedo, disse-me o Carlos à despedida, num contexto que já não recordo. E eu disse-lhe, já não quero ouvir mais nada, com essa me vou.
Vim para casa a pensar no talvez dito popular. Os sábios fantasiam, os tolos não, por isso não vêem mais além. Aqui «tolo» é mais no sentido de pobre de espírito e não de louco, que também fantasia e vê outras realidades.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

de como o amor eterno pode estragar um post(al)

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no verso do amor eterno

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abraço

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António Ferra, 2005, colagem e tinta da china, 10x13

terça-feira, dezembro 06, 2005

entre a forma e a função













(...)
E eu descia, reclamado pelo meu Príncipe, para admirar a nova máquina que nos tornaria a vida mais fácil, estabelecendo de um modo mais seguro o nosso domínio sobre a Substância. Durante os calores, que apertaram depois da Ascensão, ensaiá­mos esperançadamente, para refrescar as águas minerais, a Soda­-Water e os Medocs ligeiros, três geleiras, que se amontoaram na copa sucessivamente desprestigiadas. Com os morangos novos apareceu um instrumentozinho astuto, para lhes arrancar os pés, delicadamente. Depois recebemos outro, prodigioso, de prata e cristal, para remexer freneticamente as saladas; e, na primeira vez que o experimentei, todo o vinagre esparrinhou sobre os olhos do meu Príncipe, que fugiu aos uivos! Mas ele teimava... Nos actos mais elementares, para aliviar ou apressar o esforço, se socorria Jacinto da Dinâmica. E agora era por intervenção de uma máquina que abotoava as ceroulas. (...)

Eça de Queiroz, A Cidade e as Serras



- o problema não é a tecnologia, é o uso abusivo e desadequado da tecnologia
- o problema surge quando o aparelho não cumpre a função para que foi destinado
- ou quando deixa de funcionar. Porque a tecnologia é sempre imperfeita


“A Cidade e as Serras” é um romance que devia ser reabilitado. Já houve tentativas nesse sentido, mas a produção industrial da escrita tudo cilindra, como num blog os textos se cilindram de mês para mês, de semana a semana. E o que se julgava perene transforma-se em efémero.
Às vezes, as pessoas são como as máquinas, quando funcionam mal, devido ao seu uso desadequado. Uma ministra da cultura que fosse especialista em Eça podia salvar o Eça de modo mais eficaz do que o exercício do seu próprio ministério.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

em tâmara ardente

Há frutos que não são nada poéticos, como banana, por exemplo. O mesmo não se pode dizer de maçãs - as maçãs de Orestes, Natália, o mistério do pomo. E a palavra tâmara?

Nemésio e a tangerina

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De “Mau Tempo no Canal”, de Vitorino Nemésio:

O único Clark que restava em Londres notoriamente da família era, além de Roberto, o Dr. David Marr, filho de uma prima-irmã do Clark, do Faial, e portanto pelo apelido um espúrio, um escocês. Tinha consultório em Kensington; Roberto era empregado num banco, na City. Viam-se de anos a anos e comunicavam de Natal a Natal por cartões representando cottages a escorrer neve, with the best wishes...



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Ficavam de gelo, numa indiferença alegre e urticante, como se os risos levassem casca de tangerina azeda

Isto é outra passagem de «Mau Tempo no Canal», de Nemésio. Impressiona-me o emprego de tangerina, uma palavra fantástica, com um poder delicado de evocar sentimentos, tipos de pessoas, ou pessoas particularizadas. É uma frase poética exigida e criada no romance que escreve.