sábado, setembro 26, 2020

Clara em Castelo, a leitura de Liberto Cruz

 

C L A R A E M C A S T E L O




Sabendo que a poesia está na rua, António Ferra partiu afoitamente ao seu encontro. Mas não seguiu só. Enfiou na desprendida mochila diversas paletas, escolhidas árias e restritas frases, recolhidas todas elas, com ironia e feroz doçura, na toca do quotidiano. Daí a oposição entre duas linhas de conduta, que não chegam a enfrentar-se porque se completam, se contrariam e aparentemente se distanciam. Batidas em castelo as claras ora sobem ora baixam, mas nunca desiludem porque conservam uma textura sólida eivada de uma inquieta amargura, de uma lúcida visão das coisas e das gentes , que um humor sadio e pertinente procura atenuar como se necessário fosse.

Sintra, 26 de Setembro de 2020.

Liberto Cruz