memória de uma embaixada
A embaixada, confiada a Tristão da Cunha, partiu de Lisboa em Janeiro (1514), e foi recebida em Roma em Março. Era uma procissão magnífica, e o fausto espectaculoso do rei português conseguiu deslumbrar essa corte de Leão X onde se reuniamos os primores da civilização da Europa.
Partiram, primeiro da porta del Populo, trezentos cavalos guiados à rédea por outros tanto azeméis, vestidos de seda, e os cavalos cobertos por mantos de brocado com franjas de ouro. Seguia logo a turba da criadagem, e após ela, os portugueses de Roma, seculares e eclesiásticos. Depois iam os parentes dos embaixadores, ostentando o luxo desvairado desses tempos: chapéus de plumas bordados de pérolas de aljôfar, grossos colares e cadeias de ouro cravejadas de pedras preciosas, armas tauxiadas com embutidos e lavores, sedas veludos, rendas, anéis; montando cavalos de raça, ornados de fitas e jaezes de preço. Eram mais de cinquenta os fidalgos; e atrás do brilhante esquadrão via-se, primeiro, uma companhia de besteiros de cavalo, depois os oficiais da casa do Papa, com a sua guarda de honra de archeiros suiços e lanceiros gregos a pé
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Estes animais, dois leopardos em carros , encerrados em gaiolas, e o pontifical magnífico eram as páreas que, dos seus domínios orientais, o rei enviava ao Papa. Morreu noutra viagem o rinoceronte destinado a representar a África, mas depois foi empalhado para Roma.
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Oliveira Martins, História de Portugal
Parece que memória desta embaixada ficou entranhada no país, perdendo-se no inconsciente colectivo que, de onde a onde dá sinais de si: gasta-se aquilo que se tem enquanto dura, gasta-se mesmo quando não se tem, no fausto e pompa de cada circunstância que dá ao pobre a efémrea sensação de rico. Funciona como um carnaval latente.
Parece que memória desta embaixada ficou entranhada no país, perdendo-se no inconsciente colectivo que, de onde a onde dá sinais de si: gasta-se aquilo que se tem enquanto dura, gasta-se mesmo quando não se tem, no fausto e pompa de cada circunstância que dá ao pobre a efémrea sensação de rico. Funciona como um carnaval latente.
E tudo por causa da embaixada, e de uma corte corrupta e perdulária, de há quinhentos anos? Não se poderá desviar o curso do fatalismo histórico em nome dos limites?
2 Comentários:
à época impressionava-se o Leão X agora impressionam-se os vizinhos.
:)
João,
o problema é que me parece cada vez mais difícil encontrar traços de identidade nacional bem marcados, porque com a globalização e a tecnologia há certas coisas que se vão diluindo. Mesmo assim é possível encontrar alguns, como este. Vou procurar outros.
Obrigado pela visita.
António
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