domingo, outubro 30, 2005

perscrutante

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sexta-feira, outubro 28, 2005

a pairar



colagem de António Ferra, 2005

Umas vezes ouvimos vozes ao fim da tarde, em dias sem sol, outras vezes é o silêncio que anda a pairar. O silêncio não existe se não for construído. Elaborar o silêncio pode exigir um empenhamento tão grande como desenhar horizontes em montanhas imaginadas.

É uma orquestração das ausências

quarta-feira, outubro 26, 2005

a dança das cadeiras

Fidalgo: (…)
Venha a prancha e o atavio;
Levai-me desta ribeira.

Anjo:
Nam vindes vós de maneira
pêra entrar neste navio.
Ess’ outro vai mais vazio,
a cadeira entrará,
e o rabo caberá
e todo o vosso senhorio.

Gil Vicente, "Barca do Inferno"



Pela Idade Média, e mais ainda para a frente, ter um cadeira era sinal de prestígio. Nem todas as classes tinham acesso à cadeira. Na "Barca do Inferno" o Fidalgo fica a saber que poderá levar a cadeira com ele na embarcação para o inferno.
Hoje, cadeiras há muitas, assim como cátedras, palavra-mãe de cadeira(s). A produção e reprodução do plástico permitiu a sua acumulação e desvalorização.
E fica o ritual do empilhamento das cadeiras, quando restaurantes, cafés e pastelarias fecham até ao dia seguinte.
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domingo, outubro 23, 2005

Arcas e baús

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baú de Fernando Pessoa

Uma arca, ou um baú, é uma caixa de madeira, geralmente, que serve para guardar coisas. Coisas que se querem preservar pela sua importância, pelo seu valor. Os tesouros dos piratas eram guardados em baús, as toalhas e os melhores lençóis de linho também podem ser guardados em baús.
A palavra arca tem uma conotação diferente, evoca mais um sentimento de abrigo e protecção, como a arca de Noé para a salvação das espécies. Muitas arcas são feitas de madeiras preciosas, que não só conservam o conteúdo como repelem a bicharada – as arcas de sândalo, palavra cuja sonoridade tem sabor a longínquo, a exótico, como esta madeira. Por vezes são revestidas de couro. Aquilino Ribeiro tem uma série de histórias sobre o funcionamento de certas coisas num livro chamado “Arcas Encoiradas”, uma expressão popular para designar o que é guardado por muito tempo ao sabor do pó.

Se a palavra baú parece masculina, arca parece feminina. O A é uma vogal mais feminina e o U é mais masculina. A arca d’água é uma mãe de água. Por isso associo a estes contentores uma afirmação de Natália Correia:
«É tempo de abrirmos a arca da cultura que nos é congénita, fazendo falar os símbolos de uma ruralidade que nos desvenda a razão de sermos uma cultura predominantemente fêmea»
(sublinhado meu)

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quarta-feira, outubro 19, 2005

descubra as diferenças

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Cerca de cinquenta anos separam estes postais no tempo.
O que mudou?

terça-feira, outubro 18, 2005

Eros relativo

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Este postal pode levar a seguinte mensagem:
vê como a saudade se desenha no meu rosto. Tenho a tua ausência comigo. As flores são a fertilidade do nosso amor.

Nota: no verso é um simples postal de “parabéns pelo aniversário”

sábado, outubro 15, 2005

simulação do beijo

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Relação virtual

Maria: escrevo-te este postal para te participar que não fui ai no domingo devido ao tempo mau e antes de ir escrevo-te para te dizer quando vou de facto
Naturalmente vou no princípio do mês saudades e saudades
António


Cintra 24/10/ 911

quarta-feira, outubro 12, 2005

o homem de braço ao peito

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Uma vez comprei, na Feira da Ladra uma série de postais dirigidos à mesma pessoa, na mesma localidade, algures no Alentejo. Quase se poderiam construir certos momentos de uma história, a partir dali. Uma história real que tinha a ver com a primeira guerra, onde proliferavam imagens com militares ou com hospitais de campanha em que os feridos exibiam a sua condição de fragilidade, junto de “Florence Nightingales” muito maternais.
Lembrei-me que se escreveram romances através de cartas inventadas – “As ligações Perigosas”, por exemplo -, sobretudo no século XVIII e XIX. Algumas cartas não obtinham resposta e deixavam o autor ou autora num monólogo repetido, um discurso angustiante, porque não tinha retorno. Como nas “Lettres Portugaises” (1669), atribuídas à freira conhecida por Soror Mariana Alcoforado:
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(...) Que há-de ser de mim? Que queres que eu te faça? Estou tão longe de tudo quanto imaginei! Esperava que me escrevesses de toda a parte por onde passasses e que as tuas cartas fossem longas; que alimentasses a minha paixão com a esperança de voltar a ver-te; que uma inteira confiança na tua fidelidade me desse algum sossego, e ficasse, apesar de tudo, num estado suportável, sem excessivo sofrimento. (...)

post(ais)

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Não parece haver escassez de postais desta época. Continuam a encontrar-se facilmente nas feiras de velharias e antiguidades a preços que variam, em média, entre os 3 e os 5 euros. O que significa que eles foram produzidos em grande quantidade. Acho que a proliferação deste tipo de postais se deveu ao entusiasmo pela fotografia, às técnicas de reprodução e à (relativa) eficácia dos correios.
O postal funciona no culto da distância. Não há postal que não mencione a separação e, na falta de uma imagem própria do sujeito que envia, são utilizados imagens daquilo que imaginavam para si e para o outro.
Funcionavam como uma espécie de pré e-mails com anexo de imagem incorporado, alguns com legendas pré definidas. Assim, bastava que os utilizadores se integrassem neste ou naquele modelo de comunicação.

segunda-feira, outubro 10, 2005

uma união feliz




















A União da Terra com a Água

Peter Paul Rubens. c.1618

domingo, outubro 09, 2005

água


Ainda me lembro-me daquele homem perseguido que se queria refugiar nas montanhas vivas, qual guerrilheiro das palavras, e desatava a sobreviver daquilo que a natureza lhe dava. Contou-me – e eu registei – que ia asfixiando durante cerca de quatro meses, num país de sonho tropical, onde a falta de chuva o levara ao desespero durante algum tempo, embora soubesse que a respectiva época haveria de realizar-se. Até que uma noite, quase madrugada, ela desatou a cair como Deus a dava, com o peso daquelas mangueiradas naturais a entranharem-se na terra, a escorrerem de um poilão satisfeito, a regarem à bruta a bananeira plantada em frente da sua casa. Saiu porta fora e ali ficou a deixar que a água lhe atravessasse os ossos e lhe lavasse a alma de tanto esperar, de tanto desejar. (O desejo é um estado que inquieta e nos faz suspensos de qualquer coisa que há-de vir do céu, que é para onde olhamos quando queremos saber “para quê isto?”. Sabemos, então, que seremos dissolvidos na lama de arrasto, nas pedras, nas raízes das árvores que seguram a montanha onde os guerrilheiros lutam por uma libertação final e absoluta.)

sexta-feira, outubro 07, 2005

contibuto para o governo das cidades

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Rua Alexandre Braga, Porto

As cidades são a memória dos passos, dos olhares, da companhia anónima das casas.
Preservar a cidade
é habitá-la diariamente nas fachadas que exibimos, para que se equilibrem as margens no segredo de um patamar, num hall de entrada coberto de flores de gesso ainda vivas.

quinta-feira, outubro 06, 2005

linhas de fuga na publicidade de 1947

quarta-feira, outubro 05, 2005

análises e sínteses


Baterias

Insisto no separador, porque há coisas que não podem nem devem ser misturadas, ou então encontram-se fundidas e é necessário separá-las. No primeiro caso temos a água e o azeite. E, numa bateria, o elemento positivo e o negativo - que criam entre si a tensão necessária ao seu funcionamento - são separados por separadores (os primitivos, feitos por Planché, eram de borracha). Ainda há poucos anos (e já noutros materiais) eram vendidos avulso. Destinavam-se à fabricação e reparação das baterias de automóvel, numa sociedade em que o consumismo (com descartáveis) ainda não se sobrepunha ao aproveitamento, conservação e reparação que proliferava durante a guerra e no pós-guerra, devido às dificuldades de produção fabril. Era vulgar refazerem-se baterias, introduzindo e combinando o que era necessário, como as placas de chumbo, ácido sulfúrico a água destilada...
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Separador de nata

A separação da nata tem afinidade com o azeite, pois uma parte gordurosa separa-se de uma parte menos densa, neste caso através da centrifugação.
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separador de nata sueco

Ópera

Contrariamente, um exemplo de uma grande fusão (barroca) que provém de elementos separados é a ópera, ao integrar, num todo, a poesia, o teatro, a música, os figurinos, a cenografia. Estes elementos podem ser separados numa atitude analítica, em contraponto com a atitude sintética, isto é, a junção de vários elementos para se obter um composto adequado a um funcionamento global.
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segunda-feira, outubro 03, 2005

Se não fosse a palmeira

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(caçada da Boa Hora, Lisboa, Setembro de 2005)

a palmeira a espreitar é que vai dar este ar mediterrânico. Se não fosse a palmeira a levantar o telhado descendente, nem a imagem se aguentava.

domingo, outubro 02, 2005

ironia

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