sábado, abril 15, 2006

significado de certas coisas










(imagem: Greg Hicks website)

Oráculo

Quem sabe a causa primeira
da mão que o sangue
encarnou?

A tua mãe, Orestes, tingiu-as
naquele que te gerou.

O sangue se muda em sangue,
mancha original, olhar da insolência (1)
sobre Atreu.

De ferida em ferida marcou
a descendência
que o sofreu.

O poema, sendo oráculo,
desvenda o sangue
dos Atridas,

mas nunca o fim da morte
deixada por herança
aos homicidas.

AFerra, inédito, 2003

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imagem de cena de "Acto da Primavera"

As culturas e civilizações criam os seus próprios rituais.
O Auto da Paixão de Cristo ainda hoje se pratica (?) em certas zonas rurais. Fazia parte da vida da aldeia. Agora quase não, por causa das televisões que servem as paixões enlatadas. Ainda bem que Manoel de Oliveira deixa bem registado em filme um “Acto da Primavera” enquadrado num tempo, de guerras, como também este nosso.
Tal e qual como a tragédia grega, que fazia parte da manifestação ritualizada, religiosa da pólis. A chamada (1) insolência era a violação das leis estabelecidas e das regras da cultura e da civilização.

De um modo cínico, diz o Poder (uma personagem) a Prometeu, agrilhoado a um rochedo - como se fosse uma cruz - depois de ter roubado o fogo aos deuses:

- Agora, aqui neste lugar, sê insolente e, depois de roubares* o privilégio dos deuses, faz presente dele aos efêmeros**. Que alívio os mortais serão capazes de trazer aos teus sofrimentos? Com um falso nome os deuses te chamam Prometeu – o Previdente - ; deves, pois, de maneira previdente, libertar-te das cadeias forjadas pela arte deste.


* roubou o fogo aos deuses para o dar aos humanos
** os que duram pouco, os humanos, portanto


A história não se repete. Mas parece que se repetem coisas na história que funcionam de maneira semelhante.

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