quarta-feira, novembro 30, 2005

enigma


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António Ferra, colagem, retrato, 2004

Leio, leio, leio, e não percebo nada. Dizem que as máscaras se transformam em lugares, e depois pergunto se aquela impotência para decifrar o enigma da esfinge é apenas um gozo da tragédia. Ou foi, de facto, como se conta? Que sei eu perante o mistério intrincado e desusado das palavras no voo da filosofia? A solidão é mais sentida na ignorância dos mitos, presos à idealização grega do equilíbrio de amor e simetria.
inédito, ensaio diarístico

segunda-feira, novembro 28, 2005

Posando Para Post

quinta-feira, novembro 24, 2005

as duas irmãs

quarta-feira, novembro 23, 2005

contenção da raiva-verde

sábado, novembro 19, 2005

Party

quarta-feira, novembro 16, 2005

fantasia enfrentando a realidade

segunda-feira, novembro 14, 2005

Paris, geração perdida

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Hemingway, em Paris, com amigos da "lost generation"

Passo a escrito aquilo que o Sérgio me contou, exactamente, utilizando as suas palavras, tanto quanto possível. O Sérgio morreu em 1986, com sessenta e três anos, e pedia-me muitas vezes para eu escrever sobre ele. Decidi apresentar o texto na primeira pessoa, como se fosse ele a escrever.

Em Paris, no princípio dos anos sessenta, eu era ainda muito novo, tinha ouvido falar da guerra colonial e deixei-me ficar por lá. Não é todos os dias que se consegue ser fotógrafo da “Elle”, nem sei por que voltei. Se calhar foi para assistir ao vintecincodabril e deixá-lo registado nas fotografias dos grafitti de Lisboa, dos cravos enfiados nas espingardas. Quase esqueci aqueles que conheci, bem mais velhos do que eu, mas que ainda me faziam vibrar com a “geração perdida”. Quando voltei, trazia ainda na cabeça nomes como Anäis Nin, Henry Miller, nomes de uma geração perdida antes da minha. E eu, que, ao vivo, apenas consegui frequentar o atelier do Fernand Léger, o que nem sequer era difícil. Também só servia para folha de serviço. Quando voltei, quase às escondidas, comprei por cá as traduções brasileiras semi-proibidas do “Sexus”, “Nexus” e “Plexus”, do “Trópico de Câncer”, do “Trópico de Capricórnio”... foi por tudo isso que tantas vezes viajei nos livros para os lugares exóticos encontrados por Lawrence Durrel, do Cairo a Alexandria, até que limões amargos me chamassem à realidade.
Paris ainda está muito à superfície, os ontens entram pelos hojes dentro com uma força danada! Lembro-me muito bem que eu saía da Rue Le Goff e logo a seguir virava à esquerda, para depois atravessar o Boulevard S.Michel até caminhar à deriva pelo “Jardin du Luxembourg”. A Madame Régal, que me alugava um quarto, uma velhinha retocada em tintas e pó-de-arroz, pessoa de quase oitenta anos, olhava para mim por trás dos óculos sobre o nariz e, sempre de voz arrastada, dizia «j’aime le rouge...». E deitava um pouco de “Beaujolais” no copo. Às vezes contava-me, repetidamente e sem grandes pormenores, que tinha trabalhado para Gertrude Stein. O que é que ela teria feito? «Eh bien, j’aime le rouge...». Dizia-me, ainda, que se lembrava dos amores entre Gertrude Stein e Alice B. Toklas, tendo aprendido com esta última uma receita delirante de bolo de chocolate. Depois cantarolava «I love you, Alice B. Toklas...». Nunca mais aquela melodia desafinada me saiu dos ouvidos. E, de vez em quando disparava-me, deslocada de qualquer contexto, num inglês com sotaque parisiense, «iu arre olle a losst générachön», ou seja, «You are all a lost generation.» Mais tarde vim a saber que aquela fora a célebre frase da Gertrude Stein para o Hemingway, pelo menos é o que se diz, é o que ficou na história.

sexta-feira, novembro 11, 2005

para o fim de semana, a não perder

a não perder

o malabarista na baixa pombalina
desabitada no outono

a não perder

o jogo das cadeiras num salão
tingido de sopros em surdina

a não perder

as luzes apagadas pela mão da homeless
dormindo em quartos de cartão

a não perder

as almas quase sempre diletantes
na melodia burilada que entristece

a não perder

o rosto de um artista a querer sorrir
destinado a corridas fulgurantes

a não perder

o espectáculo da escrita do poeta
à procura dos poemas a parir

a não perder

o riso das mulheres feitas de noite
de lábios acesos ao morrer
(um hábito vestido a destoar)

a não perder

Antonio Ferra, inédito, 2003, série "satírica"

inutilidade do oiro

quarta-feira, novembro 09, 2005

ponto de observação

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terça-feira, novembro 08, 2005

sedução

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sábado, novembro 05, 2005

o funcionamento das galochas

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Será que Wellington se chamava Wellington por causa das botas, ou as wellingtons chamam-se assim por causa de Wellington?
A resposta é desnecessária, porque o que interessa, neste momento, é perceber a natureza do material que impede a água de entrar. A borracha é impermeável, não se deixa permear, não deixa que a água entre pelo meio dos interstícios. Ou seja a capilaridade é nula, por definição. Filosoficamente, a água tem sempre uma remota possibilidade de entrar, porque água mole em pedra dura..., até serem separados os elementos elásticos que constituem o todo da borracha protectora. A propriedade elástica liga-se com a possibilidade de um elemento se deformar e voltar, posteriormente, à forma inicial.
Diz-se que uma pessoa é mais ou menos permeável às idéias e opiniões dos outros. Há algumas que são mais rígidas e parecem ser menos permeáveis. Podem sofrer de falta de elasticidade mental e terem dificuldade de adaptação ao meio. Mas diz-se também que há pessoas volúveis ao vento, são uma espécie de cata-ventos.
Diz-se que o segredo da existência está em encontrar um equilíbrio entre a estaca - inamovível - e o junco - que se deixa vergar pelo vento e pela água. E então coloca-se a questão do prazer contido da moderação, porque o prazer - extremo - está justamente no excesso. O resto são “pequenos prazeres”.

O equilíbrio prende-se com:

a justa medida (subjacente a certo ideal grego que se contrapõe aos excessos dionisíacos)
o epicurismo (o maior bem na vida é o prazer, enquanto prática da virtude e da cultura do espírito)
a aurea mediocritas dos latinos (retomada por vários poetas renascentistas), que é apenas uma mediocridade doirada.

Postado isto, “Beba com moderação”. Se quiser.

sexta-feira, novembro 04, 2005

cabeça solta II



De cabeça solta pela inversão do tempo nos pântanos da tarde,
reparou que a cidade funcionava para além do lado previsível.

quarta-feira, novembro 02, 2005

cabeça solta I



Às vezes não dizemos nada só porque achamos que as palavras nos dividem.

terça-feira, novembro 01, 2005

ensaio geral

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Amanhã estes manequins estarão vestidos com a roupa que lhes impingirem. Agora estão indefesos na sua nudez, à mercê dos olhares, sem desempenharem o papel para que foram criados – substituir pessoas. Apenas disponibilizam o corpo, á força de serem usados perderam a alma.
Não têm vontade própria, submetem-se em grupo à moda dominante.