domingo, junho 18, 2006

da necessidade da matraca na informação















(...)
Naquele tempo, Itaguaí, que como as demais vilas, arraiais e povoações da colônia, não dispunha de imprensa, tinha dois modos de divulgar uma notícia: ou por meio de cartazes manuscritos e pregados na porta da Câmara e da matriz; - ou por meio de matraca.
Eis em que consistia este segundo uso. Contratava-se um homem, por um ou mais dias, para andar as ruas do povoado, com uma matraca na mão. De quando em quando tocava a matraca, reunia­-se gente, e ele anunciava o que lhe incumbiam - remédio para sezões, umas terras lavradias, um soneto, um donativo eclesiástico, a melhor tesoura da vila, o mais belo discurso do ano, etc. O sistema tinha inconvenientes para a paz pública; mas era conservado pela grande energia de divulgação que possuía.

Machado de Assis (1839-1908), O Alienista
(sublinhados meus)


Funcionamento da matraca

A matraca é constituída, basicamente, por um eixo à volta do qual gira, perpendicularmente, um elemento alongado que contem uma roda dentada. A energia para o seu funcionamento é dada pelo movimento circular da mão, segurando o eixo, acompanhado de inércia. Produz-se uma sucessão de percussões na passagem de cada dente por uma patilha. Mais ou menos intensidade e rapidez do movimento proporciona maior ou menor continuidade do som, subdividido em pequenas batidas.
O material utilizado pode ser metal (raramente), madeira ou plástico.

Se disser que o som é um ruído irritante, estou a fazer uma observação subjectiva, que não interessa à objetividade descritiva do seu funcionamento. Mas, por isso mesmo, é que existem expressões como “matraqueou-me a cabeça com aquele discurso sobre a mesma coisa”, etc.

Nota: Rela é outro nome para matraca (palavra que vem do árabe) onde se pode verificar uma certa onomatopéia, tal como no termo árabe. Rela é também o nome de um batráquio com um coaxar estridente. A rela artesanal utiliza-se também para afugentar os pássaros das searas.



4 Comentários:

Às 10:47 PM , Blogger tsiwari disse...

Os meus conterrâneos mais antigos chamam relas às rãs do rio...

:)

 
Às 12:16 AM , Blogger R.O. disse...

Olá António!, ainda bem que o funcionamento continua a funcionar, a caminho dos seus dois anos.
Associo a matraca ao dramatismo dos rituais católicos. Não é a matraca aquele instrumento que se utiliza nas procissões da Semana Santa?
Abraços, Roteia.

 
Às 1:49 AM , Blogger António Ferra disse...

(para Roteia) Creio que sim, o que reforça tudo o que está dito sobre a matraca. Cada vez gosto mais de pensar sobre a utilização simbólica dos objectos. Já foi assim com os autoclismos, com os separadores, com o azeite...
Abraço, António

 
Às 11:01 PM , Blogger R.O. disse...

Venho matraquear-te António. É que deixaste um comentário no post "Timor", que julgo se destinava ao post "Cena Aberta". Se foi um engano, como penso, sugiro que o copies e o ponhas a "funcionar" no devido lugar.
Abraços, Roteia.

 

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