Os jardins e a literatura
É um modo de expressão, de um ver e um sentir próprios de uma época e de vários lugares. Liga-se com as brumas do Norte, por oposição à luminosidade rectilínea do Sul, com certo calor mediterrânico, onde mais facilmente se recortam os templos gregos e latinos.
O chamado jardim francês é também é conhecido como jardim clássico. É rígido e formal, traduz-se por um geometrismo e simetria perfeita. Anda por Versalhes, por Saint Germain-en-Laye e por muitos outros “châteaux”. São o domínio do homem sobre a natureza, o domínio da racionalidade sobre o crescimento espontâneo, são as Luzes enciclopédicas.
Os jardins e as correntes artísticas andaram sempre de mãos dadas. Sobretudo nas épocas em que eram confortáveis os maniqueísmos. Velhas “Artes Poéticas” associavam o poeta artífice - apolíneo - ao jardim francês, e o poeta inspirado - dionisíaco - ao jardim inglês.
Hoje as coisas são muito diferentes, devido às novas catalogações, e acatalogações, modernas e pós-modernas, onde o nature e o nurture se posiciona de outra maneira.
Talvez se possa dizer que o poeta transpirado é um jardineiro incansável na procura do verso, articulando várias formas de funcionar, articulando o que nasce de dentro com a cerca que delimita muitos jardins.
Nota - Esta mensagem surge na sequência da anterior, a propósito do título do livro* que me remete para estas reflexões. A riqueza de um título, como é o caso, aponta para o conteúdo - aquele jardim interior - ao mesmo tempo que evoca um universo onde se plantam inúmeros campos semânticos.
* Curso Intensivo de Jardinagem, de Margarida Ferra