Os jardins e a literatura
É um modo de expressão, de um ver e um sentir próprios de uma época e de vários lugares. Liga-se com as brumas do Norte, por oposição à luminosidade rectilínea do Sul, com certo calor mediterrânico, onde mais facilmente se recortam os templos gregos e latinos.
O chamado jardim francês é também é conhecido como jardim clássico. É rígido e formal, traduz-se por um geometrismo e simetria perfeita. Anda por Versalhes, por Saint Germain-en-Laye e por muitos outros “châteaux”. São o domínio do homem sobre a natureza, o domínio da racionalidade sobre o crescimento espontâneo, são as Luzes enciclopédicas.
Os jardins e as correntes artísticas andaram sempre de mãos dadas. Sobretudo nas épocas em que eram confortáveis os maniqueísmos. Velhas “Artes Poéticas” associavam o poeta artífice - apolíneo - ao jardim francês, e o poeta inspirado - dionisíaco - ao jardim inglês.
Hoje as coisas são muito diferentes, devido às novas catalogações, e acatalogações, modernas e pós-modernas, onde o nature e o nurture se posiciona de outra maneira.
Talvez se possa dizer que o poeta transpirado é um jardineiro incansável na procura do verso, articulando várias formas de funcionar, articulando o que nasce de dentro com a cerca que delimita muitos jardins.
Nota - Esta mensagem surge na sequência da anterior, a propósito do título do livro* que me remete para estas reflexões. A riqueza de um título, como é o caso, aponta para o conteúdo - aquele jardim interior - ao mesmo tempo que evoca um universo onde se plantam inúmeros campos semânticos.
* Curso Intensivo de Jardinagem, de Margarida Ferra
4 Comentários:
António
Muito bem "ajardinado" o teu texto!
Gostei mesmo muito.
Vou ver se encontro o livro da Margarida. A capa faz crescer água na boca e já li um ou dois poemas em blogues.
Abraço
Luís Varela
Visitar este blogue é poder aprender mais algo. Tenho um lago numa quintarola no Ribatejo e fiquei a saber que era mais british...
Se um psiquiatra - que és - quisesse jogar com conceitos psicanalíticos, diria que o jardim romântico seria o lugar das pulsões do id, enquanto o jardim francês seria o superego...
Abraço
Caro António, obrigado por esta interpretação, pois por vezes, o psiquiatra necessita de receber mais luz e conhecimento. è desta forma que concebo a psicoterapia: termos sabedoria e estar bem psíquicamente, para podermos entender e empatizar com o outro, num processo de ajuda no crescimento e maturidade.
Abraço fraterno do Júlio
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