quinta-feira, julho 07, 2005

a defesa da poesia

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Ao folhaear a poesia de Ruy Belo encontrei um poema sobre a Marilyn Monroe, “Na morte de Marilyn Monroe”, cheio de barbitúricos contra a solidão, contra um sentido de vida desenquadrado. Ela não sabia como conviver com a solidão, não aprendeu, ninguém lhe ensinou. E, diz Ruy Belo, Perto de Marilyn havia aqueles comprimidos/seriam solução sentiu na mão a mãe/estava tão sozinha que pensou que a não amavam.
Ele próprio, Ruy Belo, traz para a poesia muita solidão. E, se calhar, morreu de solidão – ou da consequência da solidão –, enquanto estudiosos contam as vezes em que aparece o campo semântico que rodeia o abandono.

Há muita crueldade necessária na crítica literária, o que pode ser bom para escritores e leitores. E quem pensa na explicação profunda da criação poética, num sentido lato? Como nasce a obra, o verso, a imagem? É um mistério que vale a pena tentar sempre explicar, porque essa explicação contribui para a consciência do funcionamento do processo criativo. Mas, felizmente, todas essas tentativas originam frases inacabadas, para que o mistério permaneça, para que caiam por terra as racionalizações interpretativas, todavia indispensáveis ao exercício da leitura e da escrita.

“A Defesa da Poesia”, tradução portuguesa deste ensaio de Shelley (1792-1827), tem observações que, nos dias de hoje, achamos de mau gosto. Mas é necessário situar o texto no seu tempo e desenvergonharmo-nos da nossa pirosidade subjacente: Um poeta é um rouxinol que na escuridão canta a sua própria soledade com doces gorjeios;

1 Comentários:

Às 8:48 PM , Blogger Nastenka disse...

Conheço o poema de que fala... Lembrei-me de outro em que o autor afirma o seguinte: «A minha vida é um sítio de silêncio», e no entanto, Ruy Belo não foi o único a sentir-se assim...
O abandono e a solidão parecem constantes na criação poética, é como se a genialidade poética e/ou artística fosse apenas possível à custa de uma "fenda" numa qualquer área do desenvolvimento humano, como se essa "falha" fizesse proliferar uma porção habitualmente inactiva nas pessoas ditas "vulgares", ou pelo menos, existe uma incidência incrível (fruto de mera coincidência) de perturbações psico-afectivas entre os génios da arte...
Gostei do seu blog, foi a primeira vez que "passeei" por cá...

 

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