segunda-feira, maio 15, 2006

Jogo de partir e de voltar

Photobucket - Video and Image Hosting
AF. dentro do mar, 2005

Procuraram um certo mar onde pudessem correr até à extinção das raivas guardadas no centro do corpo. A pele lisa de Clarice roçava a luz e revelava-lhe a seda húmida, na incerteza tardia onde a água e o leite lhe escorriam pelos dedos minúsculos e sujos, durante a maré vaza, como no tempo da praia regular onde reprimia o ventre. E tudo além do sol se filtrava pelos toldos riscados de azul. Só hoje a sua mão, de novo, se apertava, ainda presa à idade onde se urinava livremente, num gesto protegido a fingir o gracejo. E não se moveu a sua mão, nem sequer prendeu o mar, nem suspendeu a infância das tardes onde corriam os lábios pela areia, com pequenos gritos a prolongar o dia. Só tremeu a sua mão quando emergiu um rápido golfinho. O ar inteiro respirava as ondas vislumbradas no espanto e, no breve sumo desse mar interrompido de pinheiros e de frutos, era a mão de Clarice que se estendia na forma do silêncio da distância de uma ilha, num jogo de partir e de voltar. Ondulavam-lhe dúvidas num barco, quando o torso dela subia ou crescia, no limite da orgia do olhar.
A Ferra, inédito, 2005

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial