furar a terra
Para se obter água, faz-se um furo. Simples! Há empresas de furos. Em certos locais é necessário furar cento e cinquenta metros e mais para obter um lençol de água adequado.
Enquanto os homens furam, vão injectando “lama gorda”, dizia-me um deles. A lama gorda, preparada nas oficinas da empresa, é uma lama densa cor de café com leite que, no seu retorno das profundezas do solo arrasta para fora a gravilha miúda. Lembra, de facto, gordura. À medida que vai saindo a gravilha, juntam-se as amostras para comparação.
Contam-me que há locais onde um furo pode atingir oitocentos ou novecentos metros, como há pouco lhes aconteceu no Algarve. É obra! A terra é furada por tubos de ferro, divididos por secções de cerca de três metros que atarraxam uns nos outros, com os acrescentos necessários. Cada tubo tem doze centímetros de diâmetro, calculo eu. O motor da máquina de furar pode ter diversos consumos. Esta aqui gasta aproximadamente trinta litros de gasóleo por dia, mas há máquinas que podem gastar oitocentos litros. Não compreendo esta discrepância.
O que se verifica é que a terra vai sendo furada e esventrada de toda a maneira para se obter energia. Esburaca-se para se obter petróleo que, por sua vez, alimenta a máquina que perfura o solo para se obter água. É uma viagem ao centro da terra que parece não ter fim.
Não sei como é possível continuar a esburacar a terra, que às vezes acaba por protestar, impondo as suas defesas naturais, embora sabendo que vai ser vencida pela tecnologia. É o que acontece quando a terra apresenta pedra dura durante a perfuração. Neste caso, é necessário uma sonda especial no interior do tubo perfurante.
Tudo isto até ao habemus aquam. Foi o que aconteceu, ao fim de cinco dias. Aos noventa e três metros de profundidade a água jorrava, a lama saía cada vez mais limpa, com um caudal correspondente a sete mil e trezentos metros cúbico por hora, cedendo as reservas, desafiando as secas.
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