domingo, setembro 21, 2008

Aguarde a sua Vez



















Aguarde a sua vez


Tire uma senha,
aguarde a sua vez
e fique na fila de espera,
mesmo que do lado de lá
lhe vão comendo as horas
até que a noite chegue

Carregue no botão
que uma língua de papel sai lentamente
(é um penso para tapar as feridas)
puxa-se a tira
e vem uma fita com os números
das angústias escondidas

«Mas eu só queria,
eu só queria perguntar o dia, o mês...»,
já que para ser ouvido
o coração fechado
também tira senha
e aguarda vez,

«sou o número noventa e sete
o último ainda é o trinta e quatro,
quantos por hora são escutados
com dois números de tolerância?
seja na fila da repartição,
na farmácia,
até na fila da funerária e da padaria


Se não está bem vá para outro lado,
vá para longe, para uma aldeia do interior,
mas olhe que agora, mesmo no campo,
há bichas para mungir vacas
- numa mão a teta, na outra a celha, na boca a senha,
enquanto outras vacas fazem fila
para a solidão da cidade impaciente
de senha atrás da orelha

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