Os efémeros
Uma tábua de cinquenta por setenta pintada de branco. Tinta plástica branca para exteriores dada de maneira a ficar estendida o mais uniformemente possível. Sobre esta superfície colo um rectângulo de cartão pardocento, aquele cartão das
embalagens de quase tudo, variando ligeiramante no tom dos pardos e dos ocres. Aqui, vou dispondo as peças por tempo indefinido – sobre um, uma lata; sobre outro, uns fios de arame, ou um bocado de esferovite ou papel. Nestes objectos utilizo principalmente cores ligadas à terra, ocres, brancos sujos ou limpos, e ligeiros pretos. Como todos estes materiais são muito pobres, a duração de cada quadro-objecto não poderá ser longa, o tempo tomará conta dos prazos. A estes trabalhos chamo-lhes efémeros - os efémeros! - e sei que os irei destruir daqui por algum tempo, a fim de criar espaço para outros.
Quanto tempo dura a obra de arte palpável? Há objectos artísticos que tem milhares de anos em cima devido aos materiais que foram utilizados e à situação de protecção em que permaneceram. Mas há obras de arte que podem demorar poucos minutos, como um fogo de artifício, a execução de um peça musical, um anúncio publicitário. E nem por isso deixam de ser objectos artísticos, objectos artísticos de curta duração. A combinação de peças de roupa, o arranjo de móveis e objectos dentro de um casa, são uma forma de ready-made que “eu” recolho e ofereço, quando tomo a atitude de lhes conferir o estatuto de obra de arte, numa certa concepção de efemeridade onde o olhar se orienta na fruição e participação criativa. O mesmo se pode passar com um olhar expressivo, com a sedução de um sorriso. De resto, efémera é a vida e mesmo as pirâmides do Egipto duram relativamente pouco tempo. O tempo e o espaço tem outro valor e atingiram um preço muito elevado, numa economia própria, bem diferente da economia subjacente à do tempo dos construtores das catedrais. A concepção de arte varia com a densidade populacional – espaço – e com a esperança de vida – tempo.
E com a insegurança de vida.
embalagens de quase tudo, variando ligeiramante no tom dos pardos e dos ocres. Aqui, vou dispondo as peças por tempo indefinido – sobre um, uma lata; sobre outro, uns fios de arame, ou um bocado de esferovite ou papel. Nestes objectos utilizo principalmente cores ligadas à terra, ocres, brancos sujos ou limpos, e ligeiros pretos. Como todos estes materiais são muito pobres, a duração de cada quadro-objecto não poderá ser longa, o tempo tomará conta dos prazos. A estes trabalhos chamo-lhes efémeros - os efémeros! - e sei que os irei destruir daqui por algum tempo, a fim de criar espaço para outros.
Quanto tempo dura a obra de arte palpável? Há objectos artísticos que tem milhares de anos em cima devido aos materiais que foram utilizados e à situação de protecção em que permaneceram. Mas há obras de arte que podem demorar poucos minutos, como um fogo de artifício, a execução de um peça musical, um anúncio publicitário. E nem por isso deixam de ser objectos artísticos, objectos artísticos de curta duração. A combinação de peças de roupa, o arranjo de móveis e objectos dentro de um casa, são uma forma de ready-made que “eu” recolho e ofereço, quando tomo a atitude de lhes conferir o estatuto de obra de arte, numa certa concepção de efemeridade onde o olhar se orienta na fruição e participação criativa. O mesmo se pode passar com um olhar expressivo, com a sedução de um sorriso. De resto, efémera é a vida e mesmo as pirâmides do Egipto duram relativamente pouco tempo. O tempo e o espaço tem outro valor e atingiram um preço muito elevado, numa economia própria, bem diferente da economia subjacente à do tempo dos construtores das catedrais. A concepção de arte varia com a densidade populacional – espaço – e com a esperança de vida – tempo.
E com a insegurança de vida.
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