segunda-feira, abril 01, 2013


        mário                                                             a Mário Viegas

                                                                                  em 1 de Abril de 1996



estou ouvindo a tua voz, mário

aquela voz produzida numa estrada, tão clara

a voz que não deu tréguas ao mau gosto

ao impropério encenado


viegas exilado no tempo e no espaço

confiante no sorriso e no abraço

uma divisa ou galão

quando alferes apareceste numa tela

fardado a militar pelo poema


eu queria agradecer-te, mário

a inteligência das palavras que me deste

pobre rei dom joão sexto

que nem sequer no palco foi  neutral


na garganta  no olhar  no movimento controlado

espontânea e falsamente natural

é a coragem de dizer e ser desdito

por quem te viu alguma vez naquela sala

do púlpito falando a toda a gente

fazendo dos sons um grito rouco

sem o temor de ser o mau da fita


tu é que sabias, mário-mário,

que a força das palavras que usavas

dava vida à morte dos poetas

candidatos a essa eternidade

na lucidez excessiva dos teus gestos


tu é que sabias, mário.


António Ferra




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