O autor da fotografia do menino com o cravo na G3
chama-se Sérgio Guimarães e morreu relativamenmte novo, em 1986. Era fotógrafo, sobretudo de publicidade, mas também fez outras fotografias com outros destinos, nomeadamente para certos livros que editou - As Paredes da Revolução, Diário de uma Revolução, O 25 de Abril visto pelas crianças.
Orgulhava-se de ser filiado no Partido Comunista e, quando viveu em Paris nos anos sessenta, onde trabalhou para a Elle, terá ficado sem o dedo mínimo da mão esquerda, por razões que só ele sabia. Aí frequentou o atelier de Fernand Léger.
Orgulhava-se de ser filiado no Partido Comunista e, quando viveu em Paris nos anos sessenta, onde trabalhou para a Elle, terá ficado sem o dedo mínimo da mão esquerda, por razões que só ele sabia. Aí frequentou o atelier de Fernand Léger.
Dizia-me que tinha ganho algum dinheiro com essa fotografia reproduzida em vários países, mas depois perdeu o controle, apesar das suas dificuldades económicas.
Perguntei-lhe como a tinha a feito e lembro-me de ele me contar que, no dia 25, pegou no filho do Pedro Bandeira Freire, que na altura teria dois ou três anos, e foi com ele ao aerporto da Portela para fazer a célebre fotografia. Pediu a três soldados da Marinha da Força Aérea e do Exército para segurarem na arma, e click com a Nickon.
«Parece que o miúdo está a colocar o cravo na G3, mas não, ele está esticado para tirar o cravo que eu lá pus em cima»- contou-me.
Era natural do Porto, onde foi conhecido em certo meio da sua juventude. Cá em Lisboa trabalhou com o empresário Vasco Morgado, o dos teatros, e parava muito pelo Parque Mayer. Mas sobretudo adorava o café-restaurante Monte Carlo, no Saldanha, onde reclamava quase sempre o bife. Conhecia muita gente ligada aos meios artísticos, uma vez apresentou-me o pintor Manuel Lima, no Monte Carlo. Cheguei a ver o Herberto Helder numa das muitas casas que habitou e dizia que o Luiz Pacheco era o maior escritor português. De facto, o Luiz Pacheco referiu-se a ele numa das suas entrevistas (JL), como tendo sido depositário de material escrito seu.
17 Comentários:
Boa tarde António
Gostei imenso de saber a história que esteve por detrás da fotografia do menino com a mão no cravo de uma G3.
Por ironia, vivemos tempos em que nos apercebemos de que, à nossa volta, há vontades de que o cravo, símbolo do 25 de Abril, seja mesmo tirado.
Com amizade
Teresa
Obrigado pela informação preciosa.De qualquer forma o 25 de Abril é uma referência histórica, com importância internacional.
Esta imagem é um grande registo que marca um acontecimento histórico, gostei muito de saber a narrativa que esteve por trás da fotografia.
Sempre a aprender.Obrigada pela partilha.Esta foto seguramente cruzou fronteiras, rasgou montanhas..Um abraço na liberdade que aos poucos se vai construindo..
Não sei se este blog ainda está ativo...
fiz busca no Google para Sérgio Guimarães, que conheci em 73 e 74, e as informações colocadas são interessantes. Quero contudo dar uma pequena contribuição, relativa ao dedo em falta do Sérgio.
Segundo ele me contou, uma grande paixão da sua vida foi uma atriz chamada Lia Gama. Quando ela decidiu deixar o Sérgio, ele num rebate impetuoso pegou numa faca, cortou o dedo e atirou-o a Lia, dizendo: "então, leva um bocado meu!"
Se é verdade ou ficção, não sei, mas uma coisa é certa, ouvi esta história do próprio Sérgio Guimarães.
José Dores:
Coincide em parte. Quando ao modo do corte e modo de entrega do dedo mínimo,não é exacto.
Saudações
Conheci o Sérgio Guimarães nos anos 70 tinha ele um atelier de fotografia na Picheleira.Era um óptimo fotógrafo,e um bom conversador.
Exactamente, fui muitas vezes a esse atelier
Foi o Sérgio que editou o meu livro o Capital de Marx em Banda Desenhada! Ele tinha um estúdio de fotografia em frente ao Teatro Villaret mas foi no Atelier da Picheleira que eu desenhei muitas das pranchas ! Era um personagem muito louco e imprevisível!! Sei de muitas estórias loucas dele e a cena do corte do dedo para a Lia Gama bate certo porque também assim que ele me contou!
Cruzei-me com o Sérgio Guimarães de forma casual. Foi necessário fazer a avaliação do equipamento de fotografia do estúdio da Fontes Pereira de Melo e eu acompanhei o avaliador oficial do banco que me convidou pela minha experiência em fotografia e material fotográfico.
A visita ao local foi completamente arrasadora para mim, já que a quantidade e qualidade do equipamento era avassaladora. Ele organizava em armários metálicos de grande dimensão as máquinas de cada marca, desde as Nikon, às Canon, às máquinas de grande formato de todo o tipo, cujo valor cobria fácilmente as exigências do banco para assegurar o empréstimo que ele pretendia.
O estúdio em si era actualíssimo com todo o comando de flashes e disparo sem fios. Na altura ele estava a fazer um anúncio para a Coca Cola e a responsável pela disposição da fotografia estava atarefadíssima. Ele explicou que "arranjei esta gaja a quem pago uma fortuna. Chego ao estúdio e se achar que está tudo bem faço o disparo, senão está viro costas e não digo absolutamente nada.Ela volta a refazer tudo".
Passado uns tempos ouço alguém a chamar-me do outro lado da Rua da Prata. Era um Mariachi vestido a rigor. Era o Sérgio Guimarães.
Tenho um livro "da Resistência à Libertação" oferecido e assinado por ele.
Memórias interesantes. Nem sempre ele teve material dessa qualidade e quantidade, pelo menos na parte final da sua vida. Ele passou a viver de «empenha e desempenha». Infelizmente, por falta de organização no mercado, e noutros aspectos,perdeu muito. Sem nunca deixar de dizer «eu sou o melhor». Os altos e baixos passaram a ser apenas baixos, mas a genualidade ninguém lha tira.
Obrigado pelo seu contributo.
genialidade
Obrigado António Ferra,
Acrescento ainda uma situação que ele me referiu. "Estou no meu período branco, tudo na minha casa é branco, televisão, sofás, chão, tudo, mesmo eu e a minha namorada (Lia Gama?) nos vestimos totalmente de brando e muitas vezes cruzamo-nos e devido ao efeito de mimetismo, não nos vemos!"
Grande Sérgio, a razão pela qual o dedo mindinho desapareceu, só eu hei-de saber...
Grande Picheleirq.
Sim, grande Picheleira
Sim, grande Picheleira
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial