sexta-feira, junho 10, 2005

poesia e sonho

A poesia, tal como o sonho, desenvolve-se, numa primeira fase, através de um processo primário, utilizando a terminologia de Freud: “No processo primário a energia psíquica escoa-se livremente, passando sem barreiras de uma representação para outra, segundo os mecanismos de deslocamento e de condensação. Tende a reinvestir plenamente as representações ligadas às vivências de satisfação constitutivas do desejo (alucinação primitiva)”...

Depois de “eu” plasmar, por este processo primário o poema sonhado, progressivamente o vou trabalhando por processos secundários, racionalizados.
Acredito, cada vez mais, na inter-relação da poesia com o corpo. A dança livre é também um processo primário, tal como o movimento da amiba. A palavra surge como substituição do corpo, já não é preciso um gesto para designar o que primitivamente se designava (deuten, indicar em alemão) com o corpo. O exercício da palavra irá corresponder ao processo secundário (bedeuten, significar, objectivado pelo prefixo be, em alemão.)
A oposição entre princípio de prazer e princípio de realidade é correlativa da oposição entre processo primário e secundário. Na poesia, o processo primário é esse primeiro passo com o qual se plasma o sonho sobre o papel. Trabalhar o poema, é racionalizá-lo para ser lido por outros. Note-se que, do ponto de vista tópico, o processo primário caracteriza o sistema inconsciente e o processo secundário caracteriza o sistema pré-consciente - consciente.

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