sexta-feira, junho 10, 2005

Da utilização do mar

Por todo o caminho que contorna a costa, entre a direcção da zona central da rua dos Pescadores e Santo António da Caparica, passeava um casal: o homem aparentava cerca de setenta anos e vestia um fato de linho cru, sapatos do mesmo branco sujo, camisa branca e uma gravata clara. Cabelo grisalho, ligeiramente ondulado e penteado para trás. A mulher aparentava a mesma idade, vestia um conjunto castanho de um tecido leve, uma espécie de túnica que ondulava com o vento, umas calças soltas a apertar no tornozelo, caindo sobre sapatos em beije de ligeiríssimo salto; o cabelo estava meticulosamente penteado para trás, liso, castanho escuro; a pele cuidada e a maquillage eram perfeitas, baton quase carmim sobre pele lisa e rosada de cremes.
Os dois muito bem articulados, condizendo um com o outro, caminhavam a passo certo por aquele picadeiro marginal, o mar ao lado, sem excesso de sol, quase fim de tarde, Setembro tranquilo, um pouco húmido.

No dia seguinte estava na praia estava um homem que aparentava pouco mais de cinquenta anos. Caminhava de um lado para o outro, próximo do lençol de mar que se desfaz em espuma. Vestia umas calças cinzentas escuras, um pouco brilhantes ao sol que se ia afirmando, às onze da manhã, calças impecavelmente vincadas. Calçava sapatos pretos de atacadores, bem engraxados, não queria molhá-los enquanto pisava a areia fina, junto à espuma da mansa rebentação. Estava em tronco nu!
Decidi não comentar estes dois quadros. Nem sequer fantasiá-los. Fica-me a imagem contrastante de duas maneiras de usar o mar.

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